Os esforços para reunir o maior número de informações sobre a atuação dos organismos de informação e opressão nos anos de chumbo no Brasil vão ganhar mais uma frente de pesquisa no Estado. O reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Reinaldo Centoducatte, deve publicar, ainda nesta semana, a portaria de criação da Comissão da Verdade da instituição.
As atividades oficiais do grupo começam na próxima segunda-feira, dia 4 de março, às 14h. Na pauta, a discussão sobre as áreas de atuação do grupo e o cronograma de trabalhos.
A criação da Comissão da Verdade da Ufes foi solicitada em novembro de 2012 pelo Fórum da Memória e Verdade do Espírito Santo, presidido por Francisco Celso Calmon. O pedido também foi feito pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), por meio do Ministério da Educação (MEC), de acordo com o professor do Departamento de Arquivologia e do programa de pós-graduação em História, Pedro Ernesto Fagundes, que compõe o grupo da comissão federal.
“A CNV solicitou que a universidade buscasse em seus arquivos todo tipo de documentação referente ao período da ditadura militar, especialmente os que relatam a atuação da Assessoria Especial de Segurança e Informação (AESI), órgão ligado ao Serviço Nacional de Informação (SNI), e a Divisão de Segurança e Informação do MEC, que atuou a partir de 1970 em várias universidades brasileiras”, explicou.
Segundo o professor, a AESI monitorava tudo que acontecia dentro da universidade, desde os livros que circulavam na biblioteca até o discurso do paraninfo de uma turma de formandos.
O Departamento de Arquivologia da Ufes fez um levantamento preliminar desses documentos. Em reunião no dia 22 de fevereiro, na reitoria, Fagundes apresentou o resultado das pesquisas.
“Existe uma documentação muito interessante, que precisa ser organizada e analisada sistematicamente”, afirmou.
Estão confirmados para integrar a Comissão da Verdade da Ufes o próprio Pedro Ernesto Fagundes; a vice-reitora, Maria Aparecida Santos Corrêa Barreto; a assessora da reitoria Rita Lóss; o chefe do Departamento de Arquivologia, Attilio Provedel; o coordenador do colegiado do curso de Direito, Paulo Velten; e o estudante de Arquivologia Marcelo França Furtado, que representa o Diretório Central dos Estudantes (DCE). Dois outros nomes deverão ser indicados esta semana.
Encontro
Ontem (25/02), os professores Pedro Fagundes e Paulo Velten representaram a Ufes na Reunião Ampliada com Comissões da Verdade e instituições parceiras, em Brasília.
O grupo discutiu a criação de uma metodologia única de trabalho entre todas as comissões.
Ditadura violou direitos de 50 mil pessoas
Mais de 50 mil pessoas sofreram algum tipo de abuso e tiveram seus direitos violados durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), segundo informou a Comissão Nacional da Verdade (CNV). Já foram identificados e serão convidados a prestar depoimento “dezenas” de agentes da repressão que atuaram no período.
A informação foi dada pelo pesquisador Guaracy Mingardi, do grupo de trabalho sobre estrutura da repressão, da CNV, durante reunião entre membros da comissão, das comissões da verdade estaduais e integrantes de instituições colaboradoras.
Segundo a assessoria da CNV, os agentes já tiveram nome, RG e endereço identificados. Desde maio do ano passado, a comissão já colheu vários depoimentos, entre eles de 12 agentes de órgãos de repressão.
A comissão foi instalada pela presidente Dilma Rousseff em 2012 com o objetivo de apurar as violações aos direitos humanos cometidos entre 1946 e 1988, período que inclui a ditadura militar.
De acordo com o atual coordenador da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, que assumiu o cargo no último dia 16, ainda há uma grande lista de pessoas a serem ouvidas. “Alguns desses depoimentos são tomados de forma pública. Outras são de forma reservada, porque nós estamos no meio de uma investigação”, disse Pinheiro.
Fonte: A Gazeta - 26/02/2013
Texto: Fiorella Gomes
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